Showing posts with label denúncia. Show all posts
Showing posts with label denúncia. Show all posts

12/15/2007

Mobilização Nacional CONTRA a Transposição do Rio São Francisco

Estou repassando este email que recebi do grupo Recursos Hídricos, do qual faço parte, sobre a greve de fome do Frei Cappio, há mais de 15 dias, em virtude do problema da Transposição do Rio São Francisco que o Governo Federal já está implantando ao invés de optar pela REVITALIZAÇÃO.

Por Prof. Dr. Sérgio Vilas Boas
Doutor em Geociências e Meio Ambiente na área de Bacias Hidrográficas
Educador Sócioambiental

Por eu ser Engenheiro Agrônomo e Doutor em Geociências e Meio Ambiente com TESE na área de Bacias Hidrográficas, compartilho com os colegas cientistas da área de recursos hídricos que subsidiam suas análises e pareceres com dados técnicos e focados num verdadeiro compromisso social e ambiental, optando por medidas mais simples, locais e eficazes.

Assim opto, como optei em Setembro de 2005, pela REVITALIZAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO, e sou CONTRA a Transposição.

Talvez a maioria de vocês não saibam, em Setembro de 2005, dois dias após o início da primeira greve de fome do Frei Cappio, recebi um email de um dos colegas da Rede Sócioambiental por Emails (então com menos de 30 dias que eu a havia criado). Repassei ao grupo (contava com aproximadamente 90 pessoas) e dois dias após, recebi um email de um sobrinho do Frei agradecendo-me pela mobilização pela Internet (sendo que a mídia convencional e tendenciosa não havia anunciado até então, por motivos óbvios, o que passou a ser feito somente no final daquela semana no programa "Fantástico"), convidando-me inclusive para uma reunião da família em São Paulo, onde estava sendo articulada uma mobilização com a opinião pública. Percebi o poder do projeto mobilizador da Rede Sócioambiental por Emails que eu havia criado, uma vez que eu não conhecia o sobrinho do Frei (alguém da minha rede repassou o meu email à ele).

Da mesma forma, agora reinicio a mesma mobilização, uma vez que o governo federal insiste em não ouvir a Comunidade Científica nacional, o povo brasileiro e instituições sociais e ambientais que já se manifestaram majoritariamente CONTRA a Transposição com alternativas muito mais baratas e viáveis.

Entrem no site da mobilização nacional e se interem dos fatos. Não esqueçam de assistir aos clipes que constam no site:
http://www.umavidapelavida.com.br/

A água vem sendo encarada como Commoditie (ver link http://www.labjor.unicamp.br/midiaciencia/article.php3?id_article=121 e água virtual, isto mesmo, a estamos exportando diariamente e a sociedade nem percebe isto) nos últimos anos e há uma articulação mundial dos Cartéis da Água que visam única e exclusivamente interesses econômicos em contraposição à manutenção da vida, dados os números absurdamente insanos de mortes que ocorrem no mundo todo pela ausência do líquido ou pela ingestão de água contaminada.

De qualquer forma, penso que cada um de nós é responsável pelo senso crítico que desenvolve diariamente em suas vidas, ditando como conseqüência o seu Futuro e o de seus descendentes. Cabe à mim apenas apresentar-lhes algumas informações que sirvam de subsídio para que vocês componham uma opinião à respeito.

Assim, estou anexando logo abaixo uma palestra que vem muito bem a calhar para reflexão à respeito da questão da água na América Latina e entender como vem se dando este encaminhamento dos Cartéis da água aos quais me refiro. É de fonte confiável, pois conheço o trabalho do Prof. Wagner que faz a abertura e apresentação do palestrante, o que penso que irá oferecer à todos vocês, subsídios para compor suas próprias opiniões sobre o tema.

PALESTRA: Lutas Sociais pela Água na América Latina

Ciclo de Conferências Mudanças Globais e Gestão da Água
Lutas Sociais pela Água na América Latina - IEA - USP - 6 de agosto de 2007
http://www.iea.usp.br/iea/online/midiateca/mudglobais/v070806b_100/Web/Script/index_IE.htm

Coloco também alguns links, uma vez que a mídia está abafando o caso. A Folha de São Paulo tem oferecido matérias com uma certa constância nos últimos dias, com relação às manifestações de solidariedade de entidades civis, sindicais e da comunidade acadêmica, terceiro setor e científicas à campanha do Frei Cappio.

Notícias 10 de Dezembro de 2007 - 11:12
(http://www.bahiaemfoco.com/noticia/2323/mais-de-6-mil-pessoas-na-romaria-de-apoio-a-frei-cappio)

FOLHA - http://busca.folha.uol.com.br/search?site=online&q=Frei+Cappio

Site da mobilização nacional e link para a carta entregue pelo Frei ao Presidente Lula em 04/10/07)
http://www.umavidapelavida.com.br
http://www.umavidapelavida.com.br/carta_brasil.html

Acreditem... os acontecimentos e desdobramentos que vêm ocorrendo nos últimos anos quanto a ÁGUA aqui no Brasil e na América Latina como um todo é muito mais GRAVE do que a maioria da população brasileira tem conhecimento (observem o que ocorreu no México-vide comentário na palestra anexada).

Enfim, pessoal. Os que porventura, após assistirem a palestra e lerem as matérias nos links que anexei e acharem importante tal mobilização, assinem o abaixo assinado (cujo link insiro logo abaixo e o qual acabo de assinar sob o nº12775) e encaminhem o email às suas listas de contato o mais rápido possível, pois afinal hoje já é o 19º dia de greve de fome do Frei.


Os que quiserem se aprofundar um pouco mais no assunto, sobre como as grandes corporações estão se apoderando da água doce do nosso planeta, recomendo que leiam o livro: "OURO AZUL"- Maude Barlow e Tony Clarke - Editora M. Books -2003

Forte abraço à todos.

Por um Brasil MAIS JUSTO e SOLIDÁRIO.

Prof. Dr. Sérgio Vilas Boas
Doutor em Geociências e Meio Ambiente na área de Bacias Hidrográficas
Educador Sócioambiental
------------------------------

PARTICIPAR É SINAL DE CONSCIÊNCIA

Você que é consciente, sofre a repressão de informação, pois há mais de 15 dias o D. Luiz Cappio faz jejum e oração e a grande maioria da população não está sabendo porque nossa imprensa escrita e falada não está noticiando. Vamos fazer nossa parte enquanto sociedade civil. Participe agora do abaixo assinando a petição e envie a toda sua lista, se quiser mais informações sobre o projeto e tudo o que está acontecendo acesse o www.umavidapelavida.com.br.

12/13/2007

SOS Terra: retrocesso nas negociações em Bali


Recebi esta carta da Avaaz, uma organização não-governamental cujo objetivo é fazer com que a vontade da população mundial seja conhecida por aqueles que detêm o poder. Eles estão em Bali, e as coisas, como vocês devem saber, não estão progredindo como deveriam. Eis o apelo da Avaaz:


Caros amigos,

Os EUA, Canadá e Japão estão boicotando o encontro da ONU em Bali - veja nossa petição de emergência para salvar as negociações, assine automaticamente clicando abaixo!

"Pedimos com urgência que os Estados Unidos, o Canadá e o Japão parem de bloquear as metas de redução de emissões para 2020. E que os outros países se recusem a aceitar qualquer proposta inferior."


Estamos aqui em Bali para o encontro da ONU sobre mudanças climáticas e infelizmente nossas notícias não são boas. A princípio tudo parecia bem, os negociadores estavam chegando a um consenso de que os países desenvolvidos deveriam se comprometer a metas pós-Kyoto de redução de emissão de CO2 até 2020. Esse seria um passo crucial, segundo os cientistas do Painel Intragovernamental sobre Mudanças Climáticas, para se evitar sérias catástrofes relacionadas ao aquecimento global. Mas hoje a má notícia chegou: os Estados Unidos, Canadá e Japão rejeitaram qualquer menção aos cortes de emissão no tratado pós-Kyoto. Agora, os outros países estão em cima do muro e a todo momento as diretrizes do novo tratado mudam. Não podemos deixar que três governos boicotem um processo pelo qual o mundo todo está aguardando. Por isso estamos lançando uma petição de emergência para pressionar os negociadores antes que o encontro chegue ao fim essa sexta-feira. A equipe da Avaaz em Bali irá entregar essa mensagem de toda forma possível – diretamente ás delegações presentes, em espaços públicos do encontro e através de um anúncio no principal jornal da Indonésia – o Jakarta Times. A petição pede que os Estados Unidos, Canadá e Japão aceitem as metas do acordo pós-Kyoto e que o resto do mundo não se contente com nada menos do que isso. Tome um minuto do seu tempo e clique no link para ver e assinar a petição de emergência para os Estados Unidos, Japão e Canadá:




Hoje se completa 10 anos desde a assinatura do Protocolo de Kyoto. Não podemos deixar que os Estados Unidos, o Japão e o Canadá levarem a melhor. Milhares de membros canadenses da Avaaz lançaram uma campanha pedindo para seu governo não os traírem, os membros japoneses estão escrevendo para seus líderes e os americanos estão enviando mensagens para Bali. O Al Gore e outros membros do Congresso Americano também estão chegando á Bali dizendo para os negociadores ignorarem a delegação oficial dos Estados Unidos pois ela não os representa. De todos os cantos do planeta todos nós podemos nos mobilizar para fazer parte do encontro de Bali ao assinar essa petição de emergência. Nossa equipe fará de tudo para representar a voz global em Bali e pressionar os negociadores por um tratado que tanto esperamos. Mobilize-se agora e espalhe a notícia para seus amigos, só temos até sexta-feira.




Com esperança e determinação Paul, Ricken, Galit, Ben, Iain, Graziela, Milena e toda a equipe da Avaaz


PS. A Avaaz foi a única organização a ganhar permissão para marchar dentro do espaço do encontro sábado passado. Enquanto centenas de milhares de pessoas marcharam ao redor do mundo nós trouxemos mais de meio milhão de assinaturas colhidos pela nossa mobilização virtual para o coração das negociações. Carregamos com orgulho as faixas e as bandeiras representando os membros de todos os países que apóiam a campanha. Também estamos sediando o Prêmio Fóssil do Climate Action Network – uma rede de ONGs ambientais presentes em Bali – veja o vídeo da premiação - http://www.avaaz.org/fossils (não traduzido para o Português).




A Terra pede socorro.
(Imagem do site da Avaaz.)


12/05/2007

Enquanto isso, no Japão...

Enquanto a França trabalha pelo meio ambiente, o Japão faz feio. Confira a matéria no Escriba.

8/16/2007

Faça a sua parte?

Isso é assustador. Se é assim na "educada" Inglaterra, imagine no resto do mundo???

É preciso mais educação ambiental para que as pessoas entendam de verdade a idéia básica de faça a sua parte. Urgentemente.

8/04/2007

Desastre Ambiental no Rio Grande do Norte

Visitando os blogs amigos, me deparei com esta notícia, preocupante para todos que se interessam pelo meio ambiente :


Um dos maiores desastre ecológicos do Rio Grande do Norte ocorreu neste final de julho, causando a morte de pelo menos 40 toneladas de peixes e crustáceos entre os rios Jundiaí e Potengi. Uma das suspeitas é a de contaminação química gerada por algum tipo de produto despejado no rio, o que causou a falta de oxigênio para os peixes. Segundo as declarações da bióloga Rose Dantas no jornal "Tribuna do Norte", "mesmo que todo o problema seja logo sanado, inclusive impedindo que as empresas voltem a despejar dejetos no rio, o impacto foi tamanho que será necessário, pelo menos, seis meses para que os pescadores voltem ao trabalho e, para despoluir totalmente a área, seriam necessários cerca de 15 anos".


Assustador, não? Leia mais :


Desastre ambiental forte en Natal/RN
Imunizadoras são suspeitas do desastre no rio Potengi

UPDATE:


E a poluição dos rios ocorre também em outros pontos do planeta...


Na França o governo vem de decretar (7/8/2007) a extensão da proibição do consumo dos peixes do rio Rhône pescados de Lyon até o mar Mediterrâneo.


Segundo as análises realizadas, estes apresentam uma contaminação pelo PCB, mais conhecido como piroleno, composto clorado isolante usado principalmente em transformadores, que se acumula nas partes gordurosas dos peixes. Ingerido regularmente, ele pode causar problemas de fertilidade, de crescimento e câncers nos seres humanos.


Suspeita-se que a origem da contaminação remonta aos anos 80, quando estes eram lançados no rio sem contrôle sendo que este contaminante faz parte dos 12 poluentes classificados pela ONU entre os particularmente perigosos, os POP (poluentes orgânicos persistentes). No entanto, uma enquete está sendo realizada para verificar se novas descargas deste poluente não estão ocorrendo em algum ponto do rio e também para estudar as conseqüências desta contaminação e os meios de remediá-la.


Saiba mais :


O consumo de peixe do Rhône proibido devido à contaminação pelo PCB

7/21/2007

Um país sem árvores

Projeções indicam que em cerca de 6 anos no máximo as ilhas Salomão não terão nenhum resquício de floresta tropical. Nenhuma árvore sequer, nada. A razão disso? O crescimento desenfreado da indústria madeireira para atender a demanda dos mercados consumidores de sempre: China e Índia.

Será o primeiro de muitos outros países? O futuro e a ganância econômica desenfreada dirão. Só uma coisa é certa: uma vez desmatado, com solo pobre, é muito mais difícil recuperar.

Não adianta depois chorar pelo látex derramado.

6/27/2007

Seres da Terra

Todos os anos a Festa di San Domenico faz com que milhares de turistas ocupem as ruelas de Cocullo, desconhecido vilarejo na região de Abruzzo. Tudo por causa da homenagem ao santo, cuja imagem é levada em procissão coberta pelas cobras recolhidas durante o ano. Nos dias 2 e 16 de julho acontece o Palio di Siena, uma corrida de cavalos na praça central da cidade.

As touradas:




Não estão nem um pouco longe da triste Farra do Boi. A culinária exótica produz foie gras, sopa de barbatanas de tubarão e causa sofrimento a muitos animais. Algumas formas de medicina popular, principalmente no oriente, utilizam animais não só como cobaias, mas como verdadeiras fábricas de matéria prima. Somente neste mês de julho a União Européia proibiu a comercialização de peles de cães e gatos, como já havia feito os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália, e que contribuía, entre outras coisas, a alimentar um comércio de cerca 3 bilhões de euros.

As florestas finladesas crescem em ritmo alucinante para produzir pallets e embalagens longa vida, que são recicláveis através de tortuosos processos (que tal produzir pallets com elas?).

Até quando o ser humano irá tratar esse planeta como se fosse de sua propriedade, e não o contrário?

6/08/2007

A parte mais sensível ao aquecimento


Os alertas começaram. A parte mais sensivel ao aquecimento começa a dar mostras de que não agüentará muito tempo. O gelo começa a derreter mais rápido do que o esperado.

A National Geographic deste mês tem uma interessante reportagem de capa sobre o assunto.

Leiam aqui.

5/26/2007

Reflexão para o fim de semana

A edição em inglês da revista National Geographic dedicou esse mês um especial inteiro aos problemas da pesca industrial no mundo. Entre as minhas dicas pessoais da reportagem, estão os pequenos vídeos, divididos por assuntos-chave, que merecem ser vistos não só pelo tema e sua denúncia clara, mas também pela impactante fotografia. E a galeria de fotos em si, que - não preciso dizer mais nada - tem o perfeito padrão National Geographic de ser. A denúncia dói fundo, pelo caráter neandertal. Mas é mais que necessária e precisa ser mais refletida pela sociedade.

Fica a sugestão para o "cinema" internético engajado de alta qualidade neste fim de semana de quase-inverno.

4/09/2007

2007: Ano da Arborização

Decreto no Diário Oficial do Rio de Janeiro instituiu 2007 como o Ano da Arborização, e criou o Programa Municipal de Arborização Urbana para ampliar o plantio de árvores na Cidade. A iniciativa está ligada ao Protocolo de Intenções do Rio, através do qual a Prefeitura se comprometeu a minimizar os efeitos do aquecimento global.

Entre as ações previstas estão o plantio de 25 mil árvores por ano, o reaproveitamento de resíduos de podas, e ainda campanhas de educação ambiental, concursos e outras iniciativas. Uma das primeiras ações já foi implantada: também por decreto, a Prefeitura determinou que sejam plantadas árvores em áreas públicas para compensar a desarborização causada por novas construções. A liberação do habite-se ficará condicionada ao plantio das mudas, preferencialmente nativas do Estado do Rio. Os construtores ficam responsáveis pelo plantio e deverão utilizar, nos próximos dois anos, espécies que alcançam a maior altura.

Não sei se entendi bem, mas está parecendo uma licença pra derrubar árvores nas áreas em que o construtor deseja fazer seu projeto imobiliário, desde que plante mudas em outro lugar. Quantos anos levarão até que tais mudas se transformem em árvores? Isto é, caso a lei seja cumprida. O que vocês acham? Replantio está se tornando uma licença pra desarborizar, é isso?

imagem daqui

4/05/2007

Bacalhau na Semana Santa - até quando?

Cresci celebrando a Sexta-feira da Paixão com minha família. Embora eu morasse no Espírito Santo, não comia a famosa torta capixaba - iguaria que, por sinal, não sou muito fã devido ao excesso de mariscos que minha mãe sempre comentava serem de "procedência duvidosa". Como tenho ascendência nordestina por um lado, fazíamos então na sexta-feira um verdadeiro banquete baiano: vatapá, caruru, arroz de côco e feijão de côco. Era mais sagrado que qualquer crença religiosa: chegava a sexta-feira, e íamos todos para a casa do meu tio ver a tia Alice preparar o melhor vatapá do mundo. (Sem exageros, o dela é realmente o melhor que já comi na vida.)

Para mim, a contradição máxima da Semana Santa residia exatamente aí. Como é que em um dia quando você supostamente precisa jejuar (é a tradição, não é?), nós comíamos o triplo do normal? Apenas esquecíamos da carne, mas de resto, era uma fartura só. Eu realmente não entendia. E cresci sem entender, e até hoje acho extremamente irônica essa contradição.

Eis que depois de quase 10 anos afastada do país - e obviamente descartando o feriado da Semana Santa do calendário - esse ano estou coincidentemente no Brasil nessa época para relembrar as tradições que rondam esse dia.

Sinceramente, fiquei assustada. Não com as prateleiras de ovos de chocolate, que agora têm opções mil, mas com as quantidades astronômicas de bacalhau que são vendidas nessa época nos mercados. O preço reflete bem a raridade desse peixe, mas as pessoas não estão nem aí - a maioria nem sabe que esta pode ser a última geração a comer esse peixe. Inacreditável.

O bacalhau da Noruega, também conhecido como bacalhau-do-atlântico, representa 50% do bacalhau à venda no mercado mundial hoje. É da espécie Gadus morhua, e sua reprodução é bastante demorada, além de ineficiente: a fêmea chega a pôr 10 milhões de ovos para apenas um se salvar. Para se alimentar, ele precisa de águas com uma temperatura extremamente restrita - uma diferença de um grau pode ser suficiente para ele não migrar e perecer. Por essas e outras, é muito problemático criar o bacalhau em cativeiro, pois ele precisa de muita área para sobreviver, já que é um peixe tipicamente migratório, e de temperatura mais que adequada. Há tentativas, mas elas não são bem-sucedidas.

O bacalhau sempre foi pescado por todo Atlântico Norte há milênios. Quando era pescado de modo artesanal, e o foi por mais de 1000 anos, a população de bacalhau conseguia se manter em níveis estáveis no mar. Mas o advento da indústria pesqueira de grandes navios e redes de arrasto colossais levou a produção à uma queda vertiginosa, e em 1992, a produção total de bacalhau chegou a um quinto da produção de 1969 (dados desse excelente artigo). Hoje, o bacalhau já praticamente desapareceu da costa do Canadá, e mal sobrevive na costa escandinava. Os vilarejos noruegueses que dependem do bacalhau para manutenção da economia entraram em estado de alerta: era necessário tomar providências para que o animal não se extinguisse por completo. Essas providências foram tomadas: estabeleceram-se cotas de pesca; mas não foi suficiente, pois as grandes indústrias compravam as cotas dos pequenos pescadores, e continuavam com a dizimação do bicho a níveis assustadores.

Atualmente, o bacalhau consta na lista vermelha de animais ameaçados de extinção como "vulnerável", e sua população chegou aos níveis quantitativos mais baixos da história - nunca houve tão pouco bacalhau no mar. Seu preço no mercado reflete a fragilidade da sua população e sua insustentabilidade: está ficando cada vez mais difícil encontrá-lo. Se tudo continuar como está, se não pararmos de pescá-lo industrialmente, o bacalhau estará fadado à extinção no ambiente natural. E se o aquecimento dos mares também continuar no ritmo que está, o bacalhau poderá simplesmente ser extinto de vez, já que o aumento das temperaturas do Atlântico Norte levaria sua população ao colapso. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Aí eu volto ao mercado aqui perto de casa. Pilhas e mais pilhas de bacalhau sendo vendidas. O preço alto parece não intimidar o consumidor perante a necessidade de se manter a tradição - triste constatar nesse caso que parecemos a China abatendo tubarões a qualquer custo. A instituição igreja faria muito mais pela saúde e bem-estar do planeta se, na Semana Santa, incentivasse seus fiéis a literalmente jejuarem (e saírem dessa contradição estranha), ou educasse seus seguidores a evitarem a compra de bacalhau. Será que se o consumidor soubesse que está contribuindo diretamente para o fim de uma espécie importante do topo da cadeia alimentar do Atlântico, persistiria nessa tradição que já não se sustenta?

E volto também às Semanas Santas da minha infância. Sem saber, em plena década de 80, antes do verde ser notícia, já fazíamos uma sexta-feira um pouco mais ecoconsciente que a atual, com o melhor vatapá do mundo. Viva a minha querida tia Alice.

***************

- Mais desanimador que ver a venda alucinada de bacalhau nessa época do ano, é constatar qual foi a alternativa "mais barata" encontrada aqui no Brasil: cação seco. Cação ou tubarão, um animal cuja pesca no Brasil é advinda apenas de "bycatch" (haja pesca acidental, viu... Só mesmo os órgãos fiscalizadores e ingênuos acreditam nessa desculpa esfarrapada da indústria pesqueira.) Eu vi uma pilha enorme de cação seco à venda no mesmo mercado que vi hordas de bacalhau. Sinceramente, a emenda, nesse caso, é tão ruim quanto o soneto.

- Já ouvi inúmeras vezes as pessoas argumentarem ao comprar bacalhau (ou qualquer outro produto que esteja ambientalmente ameaçado) que "o bicho já está morto mesmo, então é melhor comprar do que deixar estragar". É exatamente essa mentalidade que fomenta o mercado, e mantém as indústrias pescando incessantemente. Em minha opinião, o contrário seria mais sensato: se você simplesmente parar de comprar, mesmo com a oferta alta, o mercado encalha com o produto. Da próxima vez que for comprar do distribuidor, o dono do mercado vai diminuir sua cota de compra, pois não quer ter um prejuízo com aquele produto. E o distribuidor, por sua vez, comprará menos da indústria, é a lei básica do mercado. Essa bola de neve reversa de diminuição do consumo seria, para mim, uma das melhores formas de se evitar a extinção completa das espécies animais ameaçadas pelo desenfreado e exagerado consumo humano.


(Post originalmente publicado aqui.)

3/29/2007

Desastre ambiental vitima 50 toneladas de peixe na BA

via Agencia Estado, notícia de 26 de março

Os municípios de Santo Amaro da Purificação, Saubara e Madre de Deus, na Baía de Todos os Santos, na Bahia, decretaram situação de emergência por causa do desastre ambiental que vitimou, até agora, cerca de 50 toneladas de peixes e frutos do mar na região. Desde o dia 17, os pescadores dos municípios estão proibidos de trabalhar nas águas da baía, por causa da suspeita de contaminação. O governo estadual já homologou o decreto de Santo Amaro e prometeu enviar 2 mil cestas básicas à região, para tentar contornar a situação.
O Centro de Recursos Ambientais (CRA), que investiga as causas da mortandade, só deve emitir o laudo conclusivo sobre o acidente em duas semanas. Originalmente, pensou-se tratar de um desastre causado por pesca com bombas, ainda comum no Estado. Como a pesca foi totalmente proibida na área e os peixes e frutos do mar mortos continuaram aparecendo, a contaminação da água foi apontada como a causa do desastre, mas não se sabe se ela foi causada por resíduos químicos industriais ou por proliferação de algas

3/22/2007

Abuso de poder



Recebi essa convocação da Avaaz.org , uma comunidade de cidadãos de todo o mundo, cuja meta é garantir que as opiniões e os valores da população mundial – e não apenas das elites políticas e corporações que não prestam contas a ninguém – sejam a base para as decisões internacionais.

Os membros da Avaaz.org estão se mobilizando em prol de um mundo mais justo e pacífico e de uma visão humana da globalização. E convoca todos para que assinem uma petição pedindo para dois maiores parceiros econômicos do Zimbábue – a África do Sul e a União Européia – adotarem fortes sanções direcionadas ao Presidente Mugabe e seus oficiais de alto escalão.

Abusos no Zimbábue



A tentativa desesperada do Presidente do Zimbábue Robert Mugabe de se manter no poder está levando o país ao caos. Seus ataques contra os lideres da oposição democrática constituem uma abuso aos direitos humanos.

No domingo, o porta voz do partido democrático de oposição foi agredido de forma tão brutal que perdeu um olho. Semana passada o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, foi preso e espancado por participar de uma cerimônia de protesto. Outros ativistas democráticos no Zimbábue estão correndo sério risco, muitos ainda presos.

Não podemos deixar esse momento extremamente urgente de atenção internacional passar sem demandar ações concretas. Se a Europa e os países vizinhos do Zimbábue (a África do Sul é o seu maior parceiro econômico) ameaçarem aumentar as sanções, o Presidente Mungabe vai ser forçado a parar os ataques. O Premio Nobel da Paz Desmond Tutu da África do Sul está convocando o apoio do seu país e aliados para impedir esses abusos.

Participe, assinando a petição.

Clique aqui para se juntar a essa demanda: Sanções direcionadas (como o congelamento das contas bancárias do Presidente Mungabe no exterior) não vão prejudicar o povo do Zimbábue. Ações rápidas podem prevenir uma catástrofe.

Para além desse momento critico, devemos demonstrar solidariedade com ativistas pró-democracia e de direitos humanos ao redor do globo para construir o mundo que queremos. O Zimbábue está chegando a um ponto inaceitável de tirania e colapso do estado, é hora de dar uma virada.

Petição para os líderes da União Européia e o Presidente da África do Sul Mbeki:

O Presidente Mugabe e seus aliados devem aprender que a violação de direitos humanos traz graves conseqüências. Nós pedimos que vocês - lideres dos maiores parceiros econômicos do Zimbábue - se comprometam publicamente a colocarem sanções direcionadas ao Mugabe e outros oficiais do governo se os ataques aos lideres da oposição democrática não pararem agora.

A autoridade repousa sobre a razão

Pessoalmente, percebo que a ganãncia por poder ultrapassa os limites da razão. Enquanto enfrentamos grandes desafios, tais como as mudanças climáticas, que ameaçam o futuro do planeta, pessoas estão lutando brutalmente para assumirem o poder. Vejo que uma mobilização internacional como essa por um povo oprimido, massacrado por seu governante me faz lembrar do clássico Exupéry: "A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, farão todos revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis."

Leia mais sobre a situação no Zimbábue:

Os abusos de poder
Resolução do Parlamento Europeu
Repercussão internacional

Já assinei a petição. Participe também e assine! Faça a sua parte!

A imprensa e o meio ambiente

Passei rapidamente por aqui para recomendar a leitura do artigo de Míriam Santini de Abreu publicado no Portal do Meio Ambiente. Míriam é autora do livro Quando a palavra sustenta a farsa: o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável (Editora da UFSC).

Onde está a verdade? Como podemos nos armar para que saibamos separar o joio do trigo? Podemos vencer o poder econômico nessa luta pela sustentabilidade? Não tenho as respostas, apenas as perguntas.

3/21/2007

Por onde começar? - II

O Portal Educacional (logo e link ao lado)1, segundo a apresentação que existe no site, "é um ambiente multidisciplinar criado para que sua escola possa tirar o máximo proveito das infinitas possibilidades da internet." É, ainda segundo o portal, o "Maior portal de educação em língua portuguesa".

Dentre suas atividades, o Educacional realiza a pesquisa "Este Jovem Brasileiro", que avalia o posicionamento dos jovens frente a diversos temas. O "tema 2", recentemente publicado, é, nas próprias palavras:

"Como vocês sabem, nossa idéia é tentar entender um pouco melhor o que o jovem de hoje pensa sobre uma série de temas centrais da sua vida. Agora, na segunda fase, buscamos os valores e atitudes dos jovens em relação a assuntos como política, meio ambiente, honestidade, preconceitos, individualismo e outros. Aproximadamente 6500 alunos de diferentes partes do país responderam às questões sobre esses temas."

Vejam as demais repostas, pois mostram o "estado da arte" da nossa juventude. Por ora, interessam as respostas sobre o meio ambiente. Para a pergunta "Me preocupo realmente com o meio ambiente", vejam a análise:

"Oitenta por cento dos jovens afirmam que se preocupam com o meio ambiente, e mais de 90% acham que as pessoas poderiam se envolver mais nessa questão ou concordam que os acontecimentos atuais são absurdos...

Mas, do ponto de vista das atitudes em relação ao meio ambiente, a história é outra: Se nossos jovens dão de cara com alguém jogando lixo na rua, mais de 80% não reparam no que aconteceu ou “deixam quieto”. Apenas 20% deles, aproximadamente, têm uma postura mais ativa, como recolher o lixo jogado ou chamar a atenção do “porcalhão”.

Entre os que se consideram preocupados com o meio ambiente, não parece haver uma mudança significativa de atitude. Dos entrevistados, 87% já jogaram lixo na rua, embora mais de 75% afirmem que preferem guardá-lo na mochila ou no bolso ou, ainda, procurar uma lixeira. Só 31% se sentem culpados quando jogam lixo na rua, e 11% chegam a voltar para recolhê-lo. Também não há aqui grande diferença entre os que se consideram preocupados com o meio ambiente.

No quesito economia de água, 64% assumem que tomam banhos demorados, mas 76% dizem fechar a torneira enquanto escovam os dentes.

Muita gente parece ter aprendido que cuidar do meio ambiente é importante, mas, do ponto de vista prático, o que aparece são atitudes distantes desse ideal de cuidado com as questões ecológicas. Assim: “Fecho a torneira para escovar os dentes, mas não abro mão do prazer e conforto de um banho demorado”. Da mesma forma, “evito jogar lixo na rua, mas pouco faço para evitar a sujeira dos outros”. A pergunta final é: Será que 80% dos jovens, de fato, preocupam-se com o mundo que os cerca?
"


Não adianta querer tapar o sol com a peneira. Falta não apenas educação ambiental, mas a mais básica das educações: a que começa em casa. Como disse no post anterior, e a pesquisa é o retrato fiel do que falei, devemos começar por aí, por dentro. Esperar até quando? Até que esses jovens virem adultos inconseqüentes? Que os próximos também sejam assim?

A verdade, como diz o texto, é que as atitudes estão distantes, muitos distantes ainda do que seria necessário.

Copiei os textos e o logo sem autorização expressa do site. Espero que o simples uso para divulgação não os incomode. Se assim for, no entanto, retiro o post. Basta enviar o pedido para o mail do blog.

3/16/2007

Precisa dizer mais?


(clique na imagem para ver em tamanho normal)

Precisa dizer mais sobre o abuso do apelo à infância como forma de vender o meio ambiente? A tirinha é parte do boletim "Notícias da Lata", n° 3, nov/dez 2006, da ABRALATAS- Associação Brasileira dos Fabricantes de Alta Reciclabilidade.

O nome da organização já é um engodo! Chamar fabricante de latinha de alumínio de "Fabricante de Alta Reciclabilidade" é pensar que somos, no mínimo, ignorantes. Daí a usar um apelo infantil para que o consumo brasileiro de produtos de "alta reciclabilidade" passe das atuais 57 unidades/ano, SEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO que dentro da "reciclabilidade" existe um refrigerante, que SABIDAMENTE faz mal para a saúde, é demais. E tudo por um apelo de preservação do meio ambiente?

Me poupem, como se diz por aí!

Original em: Abralatas

3/09/2007

O marketing do meio ambiente!

Está acontecendo mais rapidamente do que se poderia esperar:

a utilização da natureza como elemento de marketing.

Ontem vi uma propaganda da Disney vendendo o DVD do desenho animado do Peter Pan. Foram-se meus sonhos de infância. Peter Pan virou plantador de árvores:

Peter Pan

O título da campanha é lindo: "Missão Verde". Se você comprar o DVD estará plantando uma árvore. Para salvar a humanidade.

Humanidade? Ou a Disney?

O apelo atinge as crianças. A propaganda passa no Discovery Kids (certamente passa nos demais canais infantis, mas não vi).

Regrinha básica do marketing: venda para os filhos; os pais compram!

É a falácia empresarial da responsabilidade social e, agora, da responsabildade ambiental. Ou, como já começa a ser amplamente divulgado no meio empresarial, "sustentabilidade empresarial".

Historinha pra boi dormir!

Empresa social e ambientalmente responsável não condiciona a natureza à venda de seus produtos. Simplesmente investe os lucros.

Da Disney - empresa típica de venda do American Way of Life - não se poderia esperar outra coisa. O que é difícil entender (não tão difícil assim, va lá) é que empresas brasileiras embarquem nessa onda.

Pior: nós acabamos por embarcar nessa onda. E vamos às lojas desesperados pelos DVDs da Disney.

Ou de tudo quanto é promessa de venda que, em troca, plante uma árvore para salvar nossa consciência.

Ficamos felizes por contribuir. Nosso travesseiro é testemunha fiel da nossa vontade de salvar o mundo. Acordo, e a primeira coisa que penso é: "fiz um filho e agora já plantei uma árvore. Só falta escrever um livro".

Ser humano feliz esse!

Feliz? Ou mais um inconsciente!? Quem sabe mais um inconseqüente?

3/04/2007

Massacre no Japão

O filme não tem a ver com o aquecimento global, mas com a mesma estupidez humana que o causa.
As cenas são terríveis, para quem tem um pingo de consciência.


2/16/2007

Um crime perfeito - II


Esse texto foi divulgado num grupo de discussão sobre educação ambiental que participo.

De antemão, gostaria de dizer que não pude (ainda) verificar as informações nele contidas e sequer a "índole" da autora (está ao final).

De qualquer forma, apresenta fatos bastante verossímeis. Tomei a liberdade de selecionar alguns trechos e os coloquei em negrito. Não pretendo, com a reprodução do texto, ter uma atitude ecoxiita, do tipo "abaixo as grandes corporações", mas apenas colocar questões para "pensar".

No jogo "economia vs meio ambiente" devemos considerar todas as possibilidades, principalmente porque um dos times, mal comparando, é a seleção brasileira... Quase invencível! Segue o texto:


"A gente não quer que um filme de duas horas substitua um rigoroso currículo de ciência. Mas estudantes deveriam esperar, e pais deveriam exigir, que educadores apresentem uma visão honesta e imparcial sobre os verdadeiros desafios de hoje", protestou a produtora do filme e fundadora da StopGlobalWarming.org, Laurie David, num artigo para o "Washington Post", no fim de novembro, depois de oferecer 50 mil DVDs gratuitos do documentário para a Associação Nacional de Professores de Ciências (NSTA, na sigla em inglês) e receber um "obrigado, mas não, obrigado".

Como justificativa para a rejeição da oferta, o diretor executivo da NSTA, Gerald Wheeler, explicou que a associação tem uma política interna que não permite a romoção de qualquer produto ou mensagem de outra organização. Mas Wheeler também não escondeu que promover o filme de Al Gore poderia prejudicar o relacionamento da NSTA com empresas da indústria de petróleo: "É com o dinheiro dos nossos patrocinadores que conseguimos melhorar a educação sobre ciências neste país".

Entre os patrocinadores da NSTA, estão a Exxon Mobil Corporationacusada de tentar maquiar nos últimos anos os efeitos do aquecimento global - e a Shell. Depois da ejeição, Laurie David foi atrás de detalhes sobre as parcerias da NSTA com estas e outras companhias. A produtora logo descobriu que a NSTA chegou a premiar a Exxon por seu comprometimento com a educação de crianças americanas e recebeu US$ 6 milhões da empresa nos últimos dez anos. E a associação não está sozinha nessa: ao todo, a Exxon deu US$ 42 milhões para organizações- chaves que determinam o que as crianças e os adolescentes do país aprendem sobre ciências, desde o jardim de infância até o ensino
médio.

Ao vasculhar o material escolar usado nos Estados Unidos, Laurie encontrou livros, apostilas, vídeos e pôsteres financiados por grandes empresas. Weyerhaeuser e nternational Paper ensinam sobre florestas, Monsanto dá uma aula de engenharia genética e o Instituto de Petróleo Americano (API) financiou um vídeo sobre o uso do
petróleo no dia-a-dia, "You Can't Be Cool Without Fuel" (Sem combustível, você não está com nada), que foi distribuído gratuitamente pela NSTA. Para a surpresa da rodutora, todo este material ignora a questão do aquecimento global.

"Já é ruim o suficiente quando uma companhia tenta vender um lixo de ciência para uma penca de adultos. Mas, como uma companhia de tabaco que usou desenho animado para promover cigarros (fumar charutos era sinal de status e até virou arma de sedução em 'Tom & Jerry'), Exxon Mobil está indo atrás de nossas crianças também", escreveu aurie no "Washington Post", lembrando também que a API deixou claro em 1998, num emorando que vazou para a imprensa, porque considera importante entrar nas salas de aula: "Informar professores e estudantes sobre incertezas nas ciências climáticas irá evitar novos esforços para impor medidas como as de Kyoto no futuro".

Além de apresentar sua versão no "Washington Post", Laurie conseguiu atrair a atenção de outros grandes jornais, revistas e sites para a polêmica. Depois do burburinho, a NSTA tentou se redimir, dizendo que já havia citado o documentário num material sobre aquecimento global enviado aos seus professores-membros e sugeriu que Laurie comprasse a mailing list da associação, que tem 57 mil pessoas. Cada mil nomes custam US$ 130, mas Laurie nem considerou a oferta, teve uma idéia melhor: oferecer milhares de DVDs diretamente aos professores americanos através do site da produtora do filme,
Participant Productions, que também disponibilizou três tipos de roteiros de aulas para serem seguidos após a apresentação. Outros mil foram distribuídos entre alunos de faculdades do país que participaram do movimento Truth on Campus, no início deste
fevereiro. Mas novos obstáculos não demoraram para aparecer.

Alguns dos professores que exibiram o DVD na sala de aula foram bombardeados por reclamações de pais de alunos e diretores de escolas. Para os republicanos, o fato de o filme ter o vice- presidente de Bill Clinton à frente o torna político - e emocrata - demais. Um pai de aluno reclamou que o documentário tem muito Al Gore e nenhum cientista.Para os céticos, há exageros: "Estamos vivendo uma histeria sobre aquecimento global que pode assustar nossas crianças". Para os evangélicos, é pouco religioso: "O aquecimento global é apenas um sinal de Deus. A Bíblia diz que no fim dos tempos a Terra vai pegar fogo, e essa perspectiva deveria estar no filme", disse outro pai também ao Washington Post, mostrando que a religião voltou a medir forças com a ciência, como na questão da evolução humana, discutida intensamente nos últimos
anos.

O caso mais notório aconteceu no distrito de Federal Way (Washington), que fica perto de Seattle, em janeiro. O conselho das escolas públicas locais concordou por nanimidade com os pais reclamões e proibiu que o documentário seja apresentado em salas de aula, "a menos que uma versão oposta, aprovada pelo superintendente, seja apresentada também". "Não existe versão oposta para fatos científicos", disse Laurie David para os jornais locais.

Mas a equipe de "An Inconvenient Truth" não desistiu. Ao lado da escritora e ativista Cambria Gordon, Laurie vai lançar ainda este ano uma versão infantil do livro "Uma Verdade Inconveniente: o que Devemos Saber (e Fazer) Sobre o Aquecimento Global", base do documentário e a venda no Brasil. Direcionado para crianças de 8 anos ou mais, "The Down-to-Earth Guide to Global Warming" será publicado com papel reciclado e tinta de soja. Laurie também está divulgando um passo a passo anti-aquecimento global para estudantes no site da StopGlobalWarming.com.

No melhor estilo boca a boca, Al Gore tem feito uma campanha através de e-mails e de seu site em que incentiva os americanos a fazerem festas em suas casas para mostrar o documentário aos vizinhos e discutir maneiras individuais de combater o aquecimento global. "Dê uma festa ou não deixe de ir à festa do seu vizinho", pediu ele, que também tem promovido workshops de três dias para recrutar voluntários pelo país e pelo mundo. O Climate Project treina milhares de pessoas de diversas faixas etárias e profissões – até a atriz Cameron Diaz participou - para levar a mensagem do filme e
tentar mudar o estilo de vida de suas comunidades. Os chamados "climate change messengers" precisam fazer pelo menos dez palestras por ano. No mês passado, foram recrutados voluntários em Nashville, Tennessee, e Sydney, na Austrália.

Apesar da força do time do contra, a luz verde no fim do túnel já começa a aparecer: Al Gore conseguiu que todas as escolas do ensino médio na Suécia e na Noruega ecebessem cópias do DVD e manuais de ensino para discutir o aquecimento global em sala de aula. O mesmo acontecerá em breve com as britânicas e escocesas. "Decidimos
distribuir o filme com um pacote informativo (para 3.385 escolas) porque acreditamos que todo mundo tem um papel importante na luta contra o aquecimento global e nossos jovens têm que entender isso", disse o ministro do meio ambiente do Reino Unido, David Miliband, ao anunciar a novidade, no início de fevereiro.

Até algumas igrejas já aderiram à campanha do ex-vice-presidente. Como as da rganização Green Faith, de Nova Jérsei, que estão promovendo o uso de bicicleta entre seus fiéis para irem à missa, oferecendo sessões gratuitas do filme de Al Gore e nstalando painéis de energia solar. No site, o grupo avisa: "Os porta-vozes da GreenFaith estão disponíveis para ensinar os valores espirituais comuns a muitas tradições da fé e o maior deles é o nosso comprometimento com a proteção do meio ambiente". Amém.(OECO)

Adriana Maximiliano, jornalista brasileira freelancer em Washington, EUA.

2/10/2007

Andando em borboletas

Tomei a liberdade de copiar essa reportagem do "ECO". A luta parece ser inglória. Mesmo que essa fábrica comprove a "legalidade" do feito, ainda resta o fato de ser um atentado a uma nova moralidade ambiental.


O pior de tudo é que, se tem quem faz, é porque tem quem compra... Atentem para o sério problema da legislação ambiental brasileira, que ainda considera os crimes dessa espécie como crimes de menor potencial ofensivo, passíveis, inclusive, de serem "trocados" por cestas básicas...


Andando em borboletas

Andreia Fanzeres

07.02.2007

Tomara que a moda lançada este verão pela grife carioca Cantão não pegue. Batizada como “Flores que voam” e dita ecológica, a última coleção da marca teve como carro-chefe uma sandália com 16 borboletas brasileiras mortas dentro de um salto plataforma feito de acrílico. Procurada pelo Ibama na última semana de janeiro, a Cantão não conseguiu apresentar nenhum documento que comprovasse a origem legal dos insetos.

A autuação por crime ambiental aconteceu por acaso. Segundo Rodrigo de Carvalho, consultor técnico do Ibama do Rio de Janeiro, uma servidora do instituto em Brasília notou numa revista feminina a foto das sandálias com as borboletas. Estranhou e contactou a fiscalização no Rio, onde a grife está sediada. Sem se identificar, Carvalho telefonou para algumas lojas e descobriu que ainda existiam exemplares no Leblon, bairro nobre da cidade. Uma equipe foi até lá, pediu nota fiscal que comprovasse origem das espécimes e registro da Cantão junto ao Ibama como comerciante de produtos da fauna. A loja não tinha nenhum dos documentos e foi multada em oito mil reais.

Foi um valor irrisório para a Cantão, que vendeu cada par de sandálias por 1.200 reais. A empresa não quis revelar quantos pares foram fabricados, mas as vendedoras disseram que foram poucos e saíram como água antes mesmo da chegada do Natal. Carvalho lamenta um valor tão baixo para a infração. “No Brasil, crime contra a fauna é considerado menor, de pouco potencial ofensivo, e o tipo de pagamento pelo dano pode ser feito por doação de cesta básica, por exemplo”, diz o biólogo.

No dia em que a equipe do Ibama autuou a Cantão, os lojistas disseram que só havia mais um par das sandálias na loja. Os fiscais apreenderam o exemplar e levaram para a superintendência do instituto, onde, diz Carvalho, as espécies de borboletas serão identificadas. Além da multa, a grife recebeu uma notificação para apresentar sua defesa até meados de fevereiro e explicar quantas sandálias foram vendidas, quem as produziu e a origem dos insetos usados como enfeite.

Na loja da marca na Gávea, visitada pela reportagem de O Eco, jovens vendedoras exaltaram a criatividade da estilista Gisele Nasser, idealizadora dos calçados. “As borboletas eram lindas, eram de verdade. As sandálias saíram até na revista Vogue!”, disse uma delas, sem se dar conta de que seu uso representou crime ambiental.

A advogada da Cantão, Fernanda Mendes, garante que a grife tem como comprovar a origem legal das borboletas e neste momento reúne os documentos necessários a serem apresentados na semana que vem para o Ibama. “Elas vêm de um criatório de Santa Catarina”, informou. Mas ainda precisa verificar se a empresa está cadastrada no Ibama como comerciante de produtos de fauna, como exige a lei.

Quem visita o site da Cantão se depara imediatamente com a sandália nos pés de uma modelo. Ao clicar sobre a coleção Verão 2007 é possível obter mais informações sobre Gisele Nasser e a poética justificativa para apropriação dos elementos da natureza: “... buscando a liberdade como borboleta, bordando amores, sutis-tentadores, pousando cá e lá por esses cantos dourados de flores...” A diferença é que a borboleta inspiradora acabou presa, morta e colada em acrílico sob os pés de quem pagou mais de mil reais por ela.